Faz dias que ando com essa aflição de escrever sobre o vento.
Não o vento de fora, que levanta as ondas no mar e a saia da Marilyn.
É um vento de dentro,
Difícil de capturar em imagem e efeito.
Mas eu sei que ele está aqui soprando,
Me fazendo tremer de frios que ninguém sente.
Me transformando em flâmula inquieta,
Quando fico presa à rigidez das coisas concretas.
Pode ser culpa do mapa astral.
Libra demais.
E devem me reger, além dos signos de ar,
Signos de névoa, neblina, mistério.
Também pode ser culpa dos livros,
Que me povoaram de brisa e tormenta.
De tanto ser arrastada pela aragem das palavras,
Fiquei assim avoada.
Prefiro a respiração do que a carne da boca.
Gosto das vozes sopradas.
Tenho intimidade com ligeireza e rodopio
E mais me encontro quando me espalho.
Minha saída é abrir muitas janelas ao mesmo tempo,
Caminhos para que um tufão não se forme no aperto.
Então descubro brecha no objetivo
E procuro as pessoas que oferecem frestas.
Tanto ar, às vezes, torna meus planos rarefeitos
Mas, só quando pego uma corrente, me alinho.
Rubem Alves conhecia esses movimentos transparentes
E explicou: “Vento engarrafado não empina pipa.”